HISTÓRIAS DE FETICHES
METENDO O NARIZ...
Adoradores de sapatos, ou o paciente de um psiquiatra americano que se roía de paixão por um velho pé de chinelo, ou o sujeito que atacava jovens no vestiário da Universidade de Virgínia para lhes roubar os tamancos, podem estar macaqueando remotos ancestrais. Mas o que dizer do fetichista citado por Krafft-Ebing em Psicopatia Sexual que tinha orgasmos acariciando um pedaço de veludo ou de pele? E o camarada citado por Wilhem Stekel, “amante” de um avental? A literatura médica registra casos de uma criatividade desconcertante, como o do homem que se masturbava fantasiando que estava com o pênis dentro da narina de uma mulher; quando ia a um bordel, não se fazia de rogado: escolhia uma prostituta de larga venta, enfiava o dedo na dita (venta, não prostituta) e gozava.
Damas e profissionais sabiam tirar proveito dos odores corporais.
Por falar em nariz, cheiros (não necessariamente agradáveis para o comum dos mortais) podem ser um estímulo erótico irresistível. As prostitutas de Nápolis tinham fama de passar atrás da orelha um pouquinho da umidade da vagina para atrair a freguesia e na Áustria, durante séculos, era costume entre homens e mulheres ir às festas de aldeia usando lenços que tinham ficado “guardados” debaixo do braço durante dias só para este fim.
Para Napoleão, Josefina e Eduardo VII, banho atrapalhava.
O bravo Napoleão curtia tanto o cheirinho natural de Josefina que certa vez, depois de longa ausência em campanha, mandou avisar a amada de que estava voltando para casa e, pelo amor de Deus, não tomasse banho antes de ele chegar. Nas tardes de verão, Eduardo VII mandava as amantes darem uma passeio antes porque preferia transar com mulheres ligeiramente suadas. (E ao que tudo indica, não ia para a cama com elas, mas para a mesa, já que mandou construir uma especialmente para este fim.)
Maria de Clèves, noiva do príncipe de Condé, conquistou o duque d’Anjou (futuro Henrique III da França) com o exuberante odor de seu suor. Tinham os dois ido à festança de casamento do rei de Navarra com Marguerite de Valois. Depois de muito dançar, Maria trocou a blusa molhada e deixou-a jogada sobre uma cama. Pouco depois, um exausto Henrique entrava no aposento e, sem se dar conta, secava o rosto com a peça fatídica. Quando saiu de lá, o futuro rei era um homem loucamente apaixonado.
Maria conquistou o rei com uma blusa suada.
Cheiro de suor deixava Yukio Mishima igualmente fora de si, o que, aliás, parecia ser seu estado natural. Nada surpreendente para quem teve o primeiro orgasmo aos 12 anos diante de uma pintura de São Sebastião crivado de flechas. Masturbador emérito, homossexual, sádico (dizia desejar desesperadamente matar um homem porque queria ver sangue), masoquista (acabou derramando o próprio sangue num harakiri público), alimentava fantasias canibais e tinha ainda tara por luvas brancas e por axilas peludas. Garotinho, desenhava guerreiros ensanguentados e agonizantes e sofreu uma das maiores decepções de sua vida ao descobrir que a gravura de um jovem em armadura que muito o havia impressionado não passava de um “santinho” de Joana d’Arc. Desde então, tomou ojeriza por mulheres vestindo roupas de homem e certa ocasião teve um ataque de nervos porque a esposa (sim, ele se casou) ousou aparecer em público de calças compridas.
Excitado, Mishima farejava sangue.
Na lista dos extravagantes eróticos, James Joyce é um dos recordistas mundiais. Para começar, gostava de ser dominado e humilhado, e escolheu a parceira perfeita. Nora Barnacle, sua companheira de toda a vida, não só tinha a aparência de uma megera como se comportava como tal. Não escondia de ninguém (principalmente, dele) o profundo desdém que sentia por tudo que o “imbecilzinho” escrevia e apesar de o marido ser incensado pela acurada percepção da mente feminina, garantia que ele não entendia nada de mulher. Até onde sabem os biógrafos do casal, negava-se, porém, a satisfazer algumas de suas fantasias, como dar-lhe vigorosas palmadas na bunda e ir para a cama com outro homem para que ele pudesse observar.
Joyce tinha tara pelas calcinhas perfumadas de Nora.
Ferrenho fetichista de roupas íntimas, Joyce tinha especial predileção por calcinhas de um tipo muito específico, “com três ou quatro babados um sobre o outro nos joelhos e nos quadris”, como as descreveu numa carta em que suplicava: “compra calças para putas, meu amor, e não te esqueças de derramar um bom perfume nas pernas delas”. Para jamais ser privado de seu estranho prazer, andava com diáfanas calcinhas de boneca no bolso e muitas vezes, depois de tomar umas e outras, foi visto com as ditas “vestidas” nos dedos, ensaiando passos de dança na mesa de um bar. Ah, sim, desde que flagrou uma de suas amantes em pleno ato de se aliviar, descobriu que tinha também uma certa tendência à coprofilia.