GOD SAVES THE BEER!
Um passeio por alguns dos
mais antigos pubs londrinos.
Vamos lá?
mais antigos pubs londrinos.
Vamos lá?
Sextos colocados no ranking mundial de consumidores de cerveja, os ingleses bebem (cada um deles) cerca de 100 litros por ano.
Um fanatismo só comparável ao que sentem pela seleção, a quarta melhor do mundo segundo a Fifa. As duas paixões costumam andar juntas... e geralmente pegar o caminho do pub mais próximo.
Ao contrário do time, porém, a bebida local nunca lhes deu dissabores: produzida a partir de cevada maltada e levedura de alta fermentação, sua ale continua inigualável desde que, no século XV, o lúpulo foi acrescentado à milenária receita, deixando-a mais encorpada, escura e amarga. Nada mais apropriado do que escolher para esta maravilha um nome literalmente mágico e intoxicante, derivado de alut, “bruxaria” ou “possessão” em hindu. Nada mais justo do que servi-la em pints, aqueles gloriosos copos e canecas de meio litro.
Escolher entre uma Newcastle Brown Ale, Backer Brown, Strong Suffolk Ale, Fuller’s Vintage e tantas outras é questão de gosto. Mas para apreciar de verdade, com tudo a que se tem direito, o ideal é estar no cenário certo, um dos 4 500 pubs londrinos. Essas tavernas (as public houses) criadas pelos conquistadores romanos no começo do século I e popularizadas pelos sedentos saxões 500 anos depois, só tinham um defeito, fechavam cedo, por volta das 11 da noite – no mais tardar e em raros casos, a uma da madrugada. Obedecendo até hoje uma lei promulgada pelo Parlamento em meados do século XIX que mandava também tocar um sino meia hora antes para dar tempo aos mais entusiasmados de tomar a saideira.
Um fanatismo só comparável ao que sentem pela seleção, a quarta melhor do mundo segundo a Fifa. As duas paixões costumam andar juntas... e geralmente pegar o caminho do pub mais próximo.
Ao contrário do time, porém, a bebida local nunca lhes deu dissabores: produzida a partir de cevada maltada e levedura de alta fermentação, sua ale continua inigualável desde que, no século XV, o lúpulo foi acrescentado à milenária receita, deixando-a mais encorpada, escura e amarga. Nada mais apropriado do que escolher para esta maravilha um nome literalmente mágico e intoxicante, derivado de alut, “bruxaria” ou “possessão” em hindu. Nada mais justo do que servi-la em pints, aqueles gloriosos copos e canecas de meio litro.
Escolher entre uma Newcastle Brown Ale, Backer Brown, Strong Suffolk Ale, Fuller’s Vintage e tantas outras é questão de gosto. Mas para apreciar de verdade, com tudo a que se tem direito, o ideal é estar no cenário certo, um dos 4 500 pubs londrinos. Essas tavernas (as public houses) criadas pelos conquistadores romanos no começo do século I e popularizadas pelos sedentos saxões 500 anos depois, só tinham um defeito, fechavam cedo, por volta das 11 da noite – no mais tardar e em raros casos, a uma da madrugada. Obedecendo até hoje uma lei promulgada pelo Parlamento em meados do século XIX que mandava também tocar um sino meia hora antes para dar tempo aos mais entusiasmados de tomar a saideira.
Entrar num pub é sempre uma volta no tempo, mesmo naqueles que oferecem aos clientes/torcedores jogos ao vivo na tevê. Mas alguns endereços têm tanta (ou mais) história quanto a Torre de Londres e o Palácio de Buckingham. Entre os considerados patrimônios da cidade está The Prospect of Whitby (57 Wapping Wall, Wapping, Tower Hamlets), talvez o mais famoso de todos. Construído nas docas em 1543, foi primeiro frequentado principalmente por marinheiros, ganhou no século XVII reputação de antro de assaltantes e contrabandistas a ponto de ser chamado de Taverna do Diabo, teve como freguês assíduo o implacável juiz Jeffreys (o Juiz Enforcador) que sentenciou à morte o duque de Monmouth e 200 rebeldes que em 1685 tentaram derrubar o rei James II. Bebe-se cerveja honesta num ambiente que reproduz o interior de um navio, com direito a lareira no inverno e mesas no terraço sobre o Tâmisa, ouvindo a água bater nos pilares de madeira.
Também à beira do rio fica The George Inn (George Inn Yard, 77 Borough High Street, Southwark), único remanescente de hospedarias construídas na região no século XIV para viajantes e cocheiros que atravessavam o Tâmisa pela Ponte de Londres. O mais famoso era o The Tabard, onde Geoffrey Chaucer começou a escrever Os Contos de Canterbury em 1388. O pub onde hoje a grande estrela é a Greene King Abbot Ale continua exatamente como era em 1676, quando foi reconstruído depois de um incêndio que devastou Southwark. No andar superior, os quartos de hóspedes deram lugar a um restaurante e no térreo há vários bares e um Coffee Room com mesas de carvalho um dia ocupadas por clientes ilustres como Charles Dickens.
Mais recente mas igualmente uma preciosidade é The Viaduct Tavern (126 Newgate Street), fundado em 1869, no mesmo ano em que a rainha Vitória inaugurou seu vizinho famoso, o Holborn, primeiro viaduto da Inglaterra. Grande parte da decoração vitoriana está intacta: vitrais cristalinos, espelhos emoldurados com prata, arabescos de cobre no teto, pilares torneados em aço... Das três donzelas pintadas em gigantescos painéis simbolizando a agricultura, as artes e o comércio, apenas uma exibe marcas, não da passagem dos séculos, mas da embriaguez de um soldado da Primeira Guerra Mundial que teria disparado tiros a esmo dentro do pub (embora outra versão garanta que o ataque foi com golpes de sabre). As cervejas sazonais e as Fullers servidas em The Viaduct podem mesmo ser um desafio à mais honesta intenção de beber moderadamente. Algumas décadas antes, o baderneiro seria levado para a prisão Newgate... que foi demolida justamente para dar lugar ao pub; dela restaram algumas celas transformadas em adega subterrânea.
Já as caves do Ye Olde Cheshire Cheese (Wine Office Court, 145 Fleet Street) ficam onde existia, no século XIII, um mosteiro carmelita. Mais exatamente, na capela de pedra cor de âmbar onde hoje se pode provar uma seleção de cervejas fortes, com destaque para a Sam Smith Old Brewery Bitter. O Ye Olde não foi o primeiro a cometer tal heresia. Antes dele (de 1538 até o grande incêndio de 1666), várias tavernas ergueram-se no local. O pub “moderno”, com imensa lareira no salão principal e um labirinto de estreitos corredores e escadarias forrados de madeira escura que levam a diversos bares, foi inaugurado em 1667. Desde então, avisa uma placa na entrada, 15 monarcas ocuparam o trono da Inglaterra. Quanto às mesas e balcões, foram ocupados por famosos como Voltaire, James Boswell, William Thackeray, Dickens. Mas a maior celebridade da casa era um papagaio que durante 40 anos “conversou” com os clientes e cuja morte foi anunciada pela BBC.
The Grenadier (Wilton Row, Belgravia) é outro orgulho dos londrinos. Patriota a começar pela fachada pintada de vermelho, azul e branco, era o local preferido dos granadeiros do Duque de Wellington e sua inspiração militar fica evidente na decoração das paredes feita com antigos sabres e baionetas, armaduras e elmos. Os frequentadores juram que tem até fantasma – o de um oficial surrado até a morte por trapacear no pôquer. Só não tem é muito espaço no restaurante de apenas 20 lugares. Filas de espera são comuns, mas os clientes não se importam porque podem matar o tempo com várias pints ou com o famoso Bloody Mary da casa, cuja receita é segredo de Estado.
(Publicado originalmene na revista FOOTBALL.)