HISTÓRIAS DE FETICHES
PÉS ERÓTICOS
Para Scott Fitzgerald, o sexo era por si só um aquecimento; de preferência, um aquecimento a dois. Antes de escrever e principalmente quando tinha um prazo apertado para cumprir, costumava ir para a cama e só depois se sentar à máquina. Na grande maioria das vezes era mesmo com sua mulher, Zelda. Não só porque os dois curtiam uma paixão doentia como porque ele não se garantia – ela o convenceu de que, com um pênis daquele tamanhinho, jamais conseguiria satisfazer outra mulher.
Zelda conhecia direitinho os pontos fracos de Scott.
Nunca deixou de ter problemas por causa disso, apesar de Hemingway (famoso femeeiro) lhe garantir que o instrumental dos dois era praticamente do mesmo tamanho – verdade ou não, foi solidário, bem diferente de um “amigo” do Duque de Windsor, que andou espalhando da forma mais deselegante: “Edward tem o menor pau que já vi em toda a minha vida”.
Pequeno ou não, sempre havia um jeito de esconder sua “vergonha”. Com os pés a história era outra. Para Scott, os pés eram objetos sexuais (foi um pedólatra o moço) – altamente excitantes se fossem femininos, profundamente constrangedores se fossem os seus próprios.
Ser visto sem sapatos equivalia a ser flagrado com as calças na mão. Por isso, todas as fotos que tirou na praia – e há muitas, sobretudo da época em que viveu na Côte d`Azur – mostram o escritor com os pés pudicamente enterrados na areia.
Pequeno ou não, sempre havia um jeito de esconder sua “vergonha”. Com os pés a história era outra. Para Scott, os pés eram objetos sexuais (foi um pedólatra o moço) – altamente excitantes se fossem femininos, profundamente constrangedores se fossem os seus próprios.
Ser visto sem sapatos equivalia a ser flagrado com as calças na mão. Por isso, todas as fotos que tirou na praia – e há muitas, sobretudo da época em que viveu na Côte d`Azur – mostram o escritor com os pés pudicamente enterrados na areia.
Pedólatras assumidos foram também Victor Hugo (que era ainda conhecido voyeur) e Dostoievsky – beijadores de pés aparecem em pelo menos três de suas obras mais importantes: Crime e Castigo, Irmãos Karamazov e Memórias do Subterrâneo.
E como do pé para o sapato é um passo, muitos fetichistas curtem mais o invólucro do que o conteúdo. Não se sabe com certeza se José de Alencar era um deles, mas captava o espírito da coisa, ou não poderia descrever tão bem o excitamento que uma botina de mulher provocava em Horácio, personagem de A Pata da Gazela:
"Mas a botina achada já não era um artigo de loja, e sim o traste mimoso de alguma beleza, o gentil companheiro de uma moça formosa, de quem ainda guardava a impressão e o perfume. (...) O que amo nela é o pé; este pé silfo, este pé anjo, que me fascina, que me arrebata, que me enlouquece! (...) Horácio, que até então se contentava com olhar e apalpar a botina, inclinou-se e beijou-a no rosto; mas tímida e respeitosamente. Não era essa a imagem do pé sedutor, que ele adorava como um ídolo."
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Flaubert também fala com paixão das botas de cano curto de Emma de Bovary. Na vida real, Lucius, pai do imperador Vitelius, era famoso por não se separar jamais das sandálias cravejadas de pedrarias da amante, Messalina – levava-as sob a toga, mas quando a vontade apertava não fazia a menor cerimônia: afagava e beijava em público o objeto de sua adoração.
Em New Orleans, em meados do século XIX, uma das garotas do concorrido bordel de madame Kathy fez tamanho sucesso ao usar saltos altos (os chamados saltos franceses, exibidos pela primeira vez no século XV por Catarina de Médicis em seu casamento com Henrique II) que a cafetina investiu parte de seus lucros importando a novidade erótica para todas as meninas – e daí em diante dobrou o preço de todos os serviços da casa.
Goethe, mulherengo chegado a um lenço perfumado e a uma liga lasciva, endoidava por um sapato usado. Tinha 64 anos quando escreveu este apelo pungente a sua amada Christiane Vulpius:
“Por favor, mande-me o quanto antes seu último par de sapatos, aquele já gasto de tanto dançar de que me falou em sua última carta, para que eu possa ter novamente algo de seu para apertar ao coração”.
Pelo jeito, a dama não só aceitava como dava a maior força ao inofensivo feitiche, talvez por considerá-lo excentricidade de um romântico incorrigível. Mal sabia ela que cerca de século e meio mais tarde um professor de Psicologia e Neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Tulane (New Orleans) faria a constrangedora descoberta de que o comportamento de Goethe, Flaubert e companhia era típico de qualquer primata.
Ao exibir botas de borracha a um macaco e a um chimpanzé, o dr. Arthur W. Epstein observou que o primeiro arreganhava os dentes e tinha imediatamente uma ereção; o segundo se aproximava, dava uma boa olhada, manuseava as botas e começava a se masturbar. Do que concluiu que milhões de anos de evolução do cérebro humano haviam apenas reprimido – sem grande sucesso – um impulso primitivo que acompanha o homem desde a época em que nem tinha pés, mas quatro mãos.
“Por favor, mande-me o quanto antes seu último par de sapatos, aquele já gasto de tanto dançar de que me falou em sua última carta, para que eu possa ter novamente algo de seu para apertar ao coração”.
Pelo jeito, a dama não só aceitava como dava a maior força ao inofensivo feitiche, talvez por considerá-lo excentricidade de um romântico incorrigível. Mal sabia ela que cerca de século e meio mais tarde um professor de Psicologia e Neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Tulane (New Orleans) faria a constrangedora descoberta de que o comportamento de Goethe, Flaubert e companhia era típico de qualquer primata.
Ao exibir botas de borracha a um macaco e a um chimpanzé, o dr. Arthur W. Epstein observou que o primeiro arreganhava os dentes e tinha imediatamente uma ereção; o segundo se aproximava, dava uma boa olhada, manuseava as botas e começava a se masturbar. Do que concluiu que milhões de anos de evolução do cérebro humano haviam apenas reprimido – sem grande sucesso – um impulso primitivo que acompanha o homem desde a época em que nem tinha pés, mas quatro mãos.
Fetiches Modernos

O filme O Cisne Negro deixou muitos estilistas assanhadíssimos. Christian Louboutin foi um que levou às últimas consequências a fissura por sapatilhas de balé, criando este modelo praticamente impossível como sapato, mas imbatível como fetiche.
O Sexy e Surrealista Salto Sem Salto
O modelo de Jean-Paul Gaultier causou espanto no desfile Primavera-Verão 2012 em Paris. De inspiração oriental, a bota estampada em azul porcelana pretende evocar um delicado pé tatuado.
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Lady Gaga ficou doida com esta criação perigosamente surrealista do estilista japonês Noritaka Tatehana para a coleção 2011. Suspeita-se de que só mesmo ela teria coragem de usar.
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