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O MISTÉRIO DAS ESFEROGRÁFICAS

Quando você era criança, elas já existiam?

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“Vovó, preciso fazer uma entrevista com você!”

Toda vez que uma das minhas netas liga dizendo isso, significa na verdade que precisa de uma espécie de pesquisa arqueológica. Seu trabalho de casa é descobrir como se fazia alguma coisa “antigamente”. E as duas consideram a vovó aqui um compêndio dos antigamentes dessa vida.

Na última vez, o assunto foi “meus tempos de escola”. Descrevi a sala de aula, o uniforme horroroso que a gente usava, como a turma ficava em forma no pátio antes da aula para cantar o Hino Nacional... e aí a Duda quis saber:


  “O que você usava para escrever?”

“Lápis”, respondi na bucha. “Os mais velhos levavam caneta tinteiro.”

“Ué, não tinha esferográfica?!”

 Vasculhei mentalmente meu estojinho do primário e a coisa mais sofisticada que encontrei foi um lápis de cor dourado que nunca usei porque achava lindo demais e não queria gastar com bobagens.

 Não, não tinha esferográfica.

 Duda desligou e fiquei encucada.

Caramba, será que sou anterior à esferográfica? 

Nunca dei muita bola para idade, mas ser anterior à esferográfica não parece coisa do século retrasado?

Graças aos céus sou do tempo do computador e não há encucação que resista a uma pesquisa on line. O Google esclareceu minha dúvida cruel.

A resposta é “sim”. Mas também é “não”.

Porque a história dessa caneta começa em 1937 (ufa!), o que torna aparentemente incompreensível o fato de nunca ter usado uma quando menina. Acontece que só chegou ao Brasil em 1961 e durante muito tempo o pessoal teve a maior má vontade com ela. Aliás, é impressionante a dureza que foi para uma invenção tão útil “pegar”.

Seu criador era Laszlo Biro, um revisor tipográfico húngaro com pinta de galã (olha ele aí ao lado), sujeito inventivo que já havia bolado um tipo de máquina de lavar e um sistema automático para caixa de câmbio de automóveis. A idéia surgiu de tanto observar como o cilindro da rotativa imprimia os textos no papel. Cismou de fabricar uma caneta que usasse o mesmo processo.

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Com a ajuda do irmão químico e de um amigo técnico industrial, em poucos meses ficava pronto um modelo em que a tinta molhava uma bolinha de aço por meio da pressão de um pistão de rosca sobre o reservatório de tinta. A maior dificuldade foi calibrar a pressão para evitar que tinta e bolinha fossem atiradas longe. Em 1938 a novidade já estava patenteada.

O problema é que ninguém queria saber dela. A única pessoa que se interessou foi um engenheiro argentino, hóspede do mesmo hotel onde Lazlo passava férias num balneário iugoslavo. Ao vê-lo usando a caneta, o estranho entregou-lhe um cartão, sugerindo que o procurasse em Buenos Aires se tivesse dificuldades para fabricar sua invenção.

Mas foi o começo da Segunda Guerra Mundial que levou o húngaro a atravessar o Atlântico. Em agosto de 1940, chegava a Buenos Aires ao mesmo tempo como refugiado e apadrinhado do tal engenheiro, que era também general e ninguém menos do que o ex-presidente da república Agustín Justo.


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Trabalhando com um amigo numa pequena fábrica instalada numa garagem, Lazlo lançou três anos depois aquelas que ficariam conhecidas pelos argentinos como biromes – modelos aperfeiçoados e simplificados que não usavam mais pressão. Coisa tão revolucionária que, em agosto de 1944, virou notícia na revista Time, como a única caneta que não vazava tinta e podia ser usada sem receio a bordo de aviões. 

As Forças Armadas americanas compraram 20 mil unidades. A empresa Eversharp comprou os direitos da invenção para os Estados Unidos por dois milhões de dólares. Uma grande loja de Nova York contratou demonstradores que passavam o dia dentro de tanques na vitrine provando que a nova caneta escrevia até debaixo d’água.

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Coisa tão fina que, na década de 50, o barão Marcel Bich, dono de uma pequena fábrica de canetas-tinteiro na França, comprou os direitos do invento e construiu um verdadeiro império com as esferográficas. Foram as canetas do barão – que se tornariam conhecidas como Bics --  que começaram a ser fabricadas no Brasil em 1961.

Cercadas, a princípio, de muita desconfiança. Temendo falsificações, os bancos, por exemplo, recusavam cheques assinados com esferográficas. Professores de escolas primárias garantiam que atrapalhava a alfabetização das crianças porque deslizava com muita facilidade pelo papel. E o fato de a escrita não poder ser apagada foi considerado grande desvantagem em relação ao lápis e à borracha.

Enquanto isso, o húngaro Lazlo Biro, naturalizado argentino, vivia numa boa em Buenos Aires, onde as papelarias ficaram de luto no dia em que morreu, com 84 anos, em 1985.

 Na época, já éramos tão íntimos da esferográfica que ela parecia fazer parte da nossa vida desde sempre. Hoje, compramos 700 milhões delas por ano. Dá para entender a surpresa da Duda. E a minha.

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