PAPO DE POLIANA

Você sabia que se passar uma hora subindo escada pode queimar 1 000 calorias?
Não, eu não pirei. Recebi esta utilíssima informação num dos milhões de emails que costumam chegar às vésperas do verão com dicas para entrar em forma e, consequentemente, no biquini. Não é o cúmulo da besteira? Outras preciosidades: “Prepare um jantar especial (?) e elimine 110 calorias a cada 30 minutos” e “Enquanto fala ao telefone, faça agachamentos e gastará 50 calorias em 10 minutos” – esta última, vamos combinar, é danada de ridícula.
Nem todas as sugestões, porém, são apenas engraçadas e/ou absurdas. Tem um papo repetitivo que sempre me deixa irritada: aquele de que você pode substituir malhação por serviços domésticos e ainda sair ganhando. Tipo lavar roupas por uma hora queima 400 calorias e uma caminhada em velocidade média durante o mesmo período de tempo só acaba com 330. Não deu uma vontade louca de correr para o tanque?
O que os autores de semelhantes comparações estão querendo, afinal de contas? Convencer alguém de que uma boa faxina pode ser o maior barato? Duvido de que uma mulher que abomine lavar pratos aceite alegremente se esfalfar na pia depois de saber que em meia hora de faina estará mandando 160 calorias para o espaço. Até porque bastaria não ter comido a sobremesa para ficar num lucro talvez até maior e com a vantagem de menos um prato para lavar. Sem falar que “economizaria” também a culpa pela gulodice. |
Quem sabe, então, o objetivo dessa conversa de Poliana seja valorizar as detestáveis tarefas, uma versão doméstica do famoso “relaxa e goza”. Neste caso, tenho sérias dúvidas de que dourar a pílula adiante alguma coisa. Falo de cadeira porque faço parte da turma das que sempre detestaram igualmente os chamados serviços do lar e exercícios físicos de maneira geral. Podendo, evito os dois. E não é que não lhes dê valor, que não sou louca nem nada. Claro que são importantíssimos. Acontece que só de pensar neles me arrepio toda, é mais forte do que eu. De modo que não existem argumentos capazes de me convencer de que pilotar um aspirador de pó possa remotamente se parecer com unir o útil ao agradável. |
Ultimamente, a única informação que recebi sobre trabalhos domésticos que me pareceu confiável foi uma pesquisa americana que contraria as “polianices” espalhadas na web e até certo ponto explica meus arrepios na espinha. Descobriram os pesquisadores que as pessoas responsáveis pela maior parte das tarefas domésticas têm pressão arterial significativamente maior do que os que deixam o trabalho para os parceiros. Significa dizer que podemos ter um troço e cair duras para trás por causa delas.
E nem vamos morrer do coração com o corpo sarado porque o que faz mal não é o batente, mas a preocupação com as milhões de coisas que precisamos fazer, como cozinhar, limpar, ir ao supermercado. Também estressantes, mas não tanto, são manter o carro, pagar as contas, controlar o orçamento. Já cuidar de crianças ou animais de estimação não teria efeitos negativos sobre a pressão arterial.
Só neste último caso não me convenci inteiramente. Mas, por favor, dê um desconto. Pode ser porque fique de mau humor depois de tanto falar em Poliana.
E nem vamos morrer do coração com o corpo sarado porque o que faz mal não é o batente, mas a preocupação com as milhões de coisas que precisamos fazer, como cozinhar, limpar, ir ao supermercado. Também estressantes, mas não tanto, são manter o carro, pagar as contas, controlar o orçamento. Já cuidar de crianças ou animais de estimação não teria efeitos negativos sobre a pressão arterial.
Só neste último caso não me convenci inteiramente. Mas, por favor, dê um desconto. Pode ser porque fique de mau humor depois de tanto falar em Poliana.
(Publicado originalmente na revista Bianchini.)