ANTES QUE EU ME ESQUEÇA...
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MÁQUINAS IMORAIS

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                        O ativo Isaac Singer teve 23 filhos e um deles, Paris, moço boêmio que fazia jus ao nome, deu-lhe um neto com Isadora Duncan. Mas seu grande legado para a posteridade e que lhe permitiu deixar uma fortuna para a filharada e demais descendência foi a utilíssima máquina de costura, que ele não inventou como muita gente pensa, porém foi bastante esperto para patentear em 1851 e industrializar.

                    Fora essa origem suspeita, o então chamado aparelho de costurar nada mais tinha que o desabonasse. Pelo menos, até meados da década seguinte, quando publicações médicas francesas começaram a encher a cabeça dos colegas com suspeita assustadora: já tinham reparado em como as costureiras fenesciam depois de algum tempo de trabalho? As moças entravam nas fábricas “muito robustas e com florida saúde” e saíam “pálidas e emaciadas”. Só podia haver um motivo para isso: excitação sexual provocada pelo atrito das coxas (e outras coisas mais) ao pedalar a máquina infernal.

         A denúncia de uma verdadeira jornada de masturbação deixou a comunidade médica em polvorosa e ninguém se perguntou se não haveria outra lebre escondida na história. Afinal, um francês, Barthélemy Thimmonier, garantia ser o verdadeiro inventor da “Singer”, miseravelmente passado para trás por industriais inescrupulosos. Se o perigoso vuc-vuc do pedal foi patriotada, nunca se saberá.

      O certo é que poucos argumentos seriam mais eficazes para abalar a reputação de qualquer um ou qualquer coisa. Estávamos numa época na qual a masturbação era considerada – como escreveu o diretor de uma revista médica também francesa – “mais desastrosa para a humanidade do que a peste, a guerra e a varíola”. Em homens, ainda se poderia admitir tal prática; nas mulheres, nunca.

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                    O autoerotismo feminino provocaria doenças e males variados como leucorréia, hemorragia uterina, queda do útero, câncer, distúrbios cardíacos, irritação na espinha, palpitações, convulsões histéricas, feições desvairadas, emagrecimento, debilidade e manias. Mesmo quando não era a causa, agravava tudo isso.

         Para piorar a situação, especialistas partiram para pesquisas de campo. Um deles, o inglês J. L. H. Down, entrevistou várias costureiras que se queixavam de palpitações do coração, fortes dores nas costas, dores de cabeça, problemas de vista e fraqueza geral. Enfim, sintomas naturais em qualquer criatura que passasse mais de 14 horas diariamente curvada sobre uma máquina.

        O doutor apressou-se, porém, a garantir: suas investigações provaram que nada disso tinha a ver com o trabalho exaustivo propriamente dito, e sim com os “hábitos imorais causados pelo eroticismo que o movimento das pernas provocava”. Tanto que em vários casos a paciente havia admitido o efeito erótico do trabalho e recuperado a saúde ao deixar a máquina, tomar regularmente banhos frios, fazer exercícios ao ar livre e ingerir brometo de potássio com sais de ferro.

         Um abandono em massa do serviço era coisa impensável. Houve quem sugerisse a remoção imediata dos obscenos pedais, providência que, por sua vez, também acarretaria incalculáveis prejuízos financeiros. Optou-se, então, por remover coisa bem mais supérflua: o clitóris das moças.
A operação – é necessário esclarecer – não era compulsória, mas tinha defensores entusiastas que ajudaram a torná-la, digamos assim, popular.


        Um deles, o cirurgião inglês Isaac Brown Baker, realizou várias “para alívio de epilepsia e outras aflições nervosas das mulheres”. Nos Estados Unidos, um dos paladinos da extirpação do clitóris foi um médico de New Orleans, dr. A. J. Bloch, inimigo ferrenho da masturbação feminina, que descreveu como “lepra moral” num artigo sobre Perversão Sexual na Mulher. O doutor manejava o bisturi com tamanha exaltação e vigor que não hesitou em operar uma paciente que sofria de um “obscuro distúrbio nervoso” e mal sabia para que servia uma máquina de costura: uma menina de dois anos  e meio.   

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                  Imagine-se o que essa turma faria se desse plantão na emergência de hospitais modernos, onde não são raros casos de homens que baixam ao pronto-socorro por excesso de entusiasmo no uso autoerótico de aspiradores de pó. Como no episódio da Singer, seria tão absurdo quanto culpar as Walitas e Brastemps da vida iriam parar nas páginas policiais e no Procon, acusadas pelo estrago causado pela curiosidade incompetente do usuário.

      Quanto a este, talvez tivesse o objeto de seu tormento cortado pela raiz, e é bem provável que um parlamentar cioso de seus deveres em defesa da cidadania sugerisse a abertura de uma CPI e projeto de lei proibindo a venda dos nefandos eletrodomésticos.

       Agora, e quando a máquina em questão foi realmente criada para aquilo e endoida, ameaçando a integridade física do comprador? Episódio relativamente presente mostra que, pelo menos na Inglaterra, o pessoal sabe evitar a paranóia, embora uma certa dose de vexame seja inevitável.

       Em 13 de outubro de 2002, a imprensa avisava que a maior rede de roupas íntimas e sex shop britânica, a Ann Summers, estava fazendo algo verdadeiramente inédito: o recall de um de seus ítens mais vendidos, o vibrador Rampant Rabbit.
"Se você adquiriu este produto entre  maio e setembro
de 2002, por favor, pare de usá-lo imediatamente", alertava ainda o site da loja.

      Tudo porque a ponta de borracha cor-de-rosa do tal “coelhinho alerta” (que tem 17,8cm de comprimento) poderia se romper e, em vez do esperado orgasmo, a mulher receberia nas partes a descarga de 4 pilhas pequenas em plena atividade. Nada capaz de eletrocutar ninguém, mas suficiente para dar um chega pra lá na reputação da Ann Summers – afinal, nada menos de 150 mil clientes ficaram com o vibrador na mão.

(Extraído de Uma História Universal da Fêmea.)
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