A VERDADE SOBRE
AS FALSAS LOURAS
Dedicado à minha louríssima amiga Evelyn Schulke que ficou surpresa com a cor do meu cabelo na foto deste site.

Estamos carecas de saber que, a partir do momento em que aparece o primeiro fio branco, as mulheres começam a ficar louras. Confesso que sempre achei tal transformação uma tremenda falta de imaginação, coisa de perua.
Mas nada como sofrer na própria pele (no caso, no próprio cabelo) para cair na real. E a realidade é que entrei para a turma das alouradas, vencida que fui por dois fatos da vida. O primeiro demonstra sem sombra de dúvida que não existe tintura capaz de nos devolver a cor original, mesmo um simples castanho médio como o meu. Sem falar que os chamados tons mais próximos podem não passar de pura cilada.
Por indicação de cabeleireiros bem intencionados, tentei um castanho escuro dourado que em mim ficou horripilante negro-asas-de-graúna-suja. Quanto ao castanho claro acobreado, transformou-se em assustador vermelho-Bozo.
O segundo fato da vida que me levou a baixar as defesas contra a lourice -- e agora você vai entender aonde quero chegar com este aparente papo de comadre -- é que tecnicamente toda loura é falsa: louras são, por definição, mutantes.
Quando resolvemos partir para um clarinho básico, fazemos em meia hora o que a natureza levou milhares e milhares de anos para conseguir. Faz tempo que o antropólogo canadense Peter Frost defende a tese (agora reconhecida por seus pares) de que a primeira loura surgiu na face da terra por volta de
11 000a.C. pelo mesmo motivo que levou os macacos a andarem eretos; foi uma questão de sobrevivência.
Com perigos mil rondando as mulheres das cavernas, arranjar um bom troglodita que as protegesse era sua prioridade 1A. Mas justamente por causa dos tais perigos, havia escassez de homens, e o único jeito garantido de uma garota atrair um belo espécime seria se destacar na multidão.
Num tempo em que Amy Winehouse passaria despercebida em meio ao mulherio descabelado, cabeças douradas tinham um apelo sexual pra ninguém botar defeito.
O grande problema é que atrairiam também apetites indesejados de tigres-dente-de-sabre e outros monstrengos.
Por isto, a mutação genética foi bastante seletiva. Para não dar mais bandeira do que o absolutamente necessário, as louras apareceram em sete variações de cores (do quase branco ao ouro intenso) apenas nas regiões com menor incidência de sol, no que hoje são o norte e o leste europeus.
Quase imediatamente aquelas mulheres diferentes e raras começaram a se tornar ao mesmo tempo desejáveis e odiadas, endeusadas e mal faladas.
Para os gregos, por exemplo, Afrodite só poderia ser louríssima. Entre os romanos, a ambiguidade fica evidente quando se sabe que as prostitutas eram obrigadas a pintar o cabelo ou usar perucas douradas como símbolo de que estavam disponíveis para qualquer homem; e enquanto isto, as senhoras decentes usavam vinho envelhecido, cinzas de lareira, suco de limão e uma mistura de água da chuva com camomila na tentativa de ficarem tão sedutoramente louras quanto as escravas que os maridos traziam de terras distantes.
São conhecidos casos de matronas romanas que mandaram matar e escalpelar as ditas escravas e usavam as cabeleiras como troféus.
Como se vê, a fama de burra (inventada com toda certeza por morenas) foi o mínimo que aconteceu na história das nossas mutantes. Com exceção do escalpo em outras eras, ninguém pode tirar delas a esperteza genética e outro fato da vida: fios louros são mais finos e por isto as crianças, que tem cabelo fininho, costumam nascer alouradas.
Resultado, associamos a cor com juventude. Não é de estranhar, portanto, que depois de uma certa idade você queira ficar loura. E daí que seja uma loura falsa? Afinal, quem não é?
(Publicado originalmente na revista Bianchini.)
Mas nada como sofrer na própria pele (no caso, no próprio cabelo) para cair na real. E a realidade é que entrei para a turma das alouradas, vencida que fui por dois fatos da vida. O primeiro demonstra sem sombra de dúvida que não existe tintura capaz de nos devolver a cor original, mesmo um simples castanho médio como o meu. Sem falar que os chamados tons mais próximos podem não passar de pura cilada.
Por indicação de cabeleireiros bem intencionados, tentei um castanho escuro dourado que em mim ficou horripilante negro-asas-de-graúna-suja. Quanto ao castanho claro acobreado, transformou-se em assustador vermelho-Bozo.
O segundo fato da vida que me levou a baixar as defesas contra a lourice -- e agora você vai entender aonde quero chegar com este aparente papo de comadre -- é que tecnicamente toda loura é falsa: louras são, por definição, mutantes.
Quando resolvemos partir para um clarinho básico, fazemos em meia hora o que a natureza levou milhares e milhares de anos para conseguir. Faz tempo que o antropólogo canadense Peter Frost defende a tese (agora reconhecida por seus pares) de que a primeira loura surgiu na face da terra por volta de
11 000a.C. pelo mesmo motivo que levou os macacos a andarem eretos; foi uma questão de sobrevivência.
Com perigos mil rondando as mulheres das cavernas, arranjar um bom troglodita que as protegesse era sua prioridade 1A. Mas justamente por causa dos tais perigos, havia escassez de homens, e o único jeito garantido de uma garota atrair um belo espécime seria se destacar na multidão.
Num tempo em que Amy Winehouse passaria despercebida em meio ao mulherio descabelado, cabeças douradas tinham um apelo sexual pra ninguém botar defeito.
O grande problema é que atrairiam também apetites indesejados de tigres-dente-de-sabre e outros monstrengos.
Por isto, a mutação genética foi bastante seletiva. Para não dar mais bandeira do que o absolutamente necessário, as louras apareceram em sete variações de cores (do quase branco ao ouro intenso) apenas nas regiões com menor incidência de sol, no que hoje são o norte e o leste europeus.
Quase imediatamente aquelas mulheres diferentes e raras começaram a se tornar ao mesmo tempo desejáveis e odiadas, endeusadas e mal faladas.
Para os gregos, por exemplo, Afrodite só poderia ser louríssima. Entre os romanos, a ambiguidade fica evidente quando se sabe que as prostitutas eram obrigadas a pintar o cabelo ou usar perucas douradas como símbolo de que estavam disponíveis para qualquer homem; e enquanto isto, as senhoras decentes usavam vinho envelhecido, cinzas de lareira, suco de limão e uma mistura de água da chuva com camomila na tentativa de ficarem tão sedutoramente louras quanto as escravas que os maridos traziam de terras distantes.
São conhecidos casos de matronas romanas que mandaram matar e escalpelar as ditas escravas e usavam as cabeleiras como troféus.
Como se vê, a fama de burra (inventada com toda certeza por morenas) foi o mínimo que aconteceu na história das nossas mutantes. Com exceção do escalpo em outras eras, ninguém pode tirar delas a esperteza genética e outro fato da vida: fios louros são mais finos e por isto as crianças, que tem cabelo fininho, costumam nascer alouradas.
Resultado, associamos a cor com juventude. Não é de estranhar, portanto, que depois de uma certa idade você queira ficar loura. E daí que seja uma loura falsa? Afinal, quem não é?
(Publicado originalmente na revista Bianchini.)