DOCE VINGANÇA
“Não quero vingança.
Quero justiça.”
A gente vive ouvindo isto de quem foi vítima, direta ou indiretamente, de algum crime ou ofensa grave. Fico perplexa com tal pretensa demonstração de grandeza moral. Primeiro, porque é negar um instinto básico do ser humano, e negar isto num momento de grande stress me parece papo furado ou arrogância. Depois, porque se trata de frase feita, e quem a repete geralmente quer que o agressor apodreça na cadeia ou torre no fogo do inferno; ainda assim, está crente que este desejo (dos mais compreensíveis) é um sentimento puro e politicamente correto que nada tem a ver com vingança.
Quero justiça.”
A gente vive ouvindo isto de quem foi vítima, direta ou indiretamente, de algum crime ou ofensa grave. Fico perplexa com tal pretensa demonstração de grandeza moral. Primeiro, porque é negar um instinto básico do ser humano, e negar isto num momento de grande stress me parece papo furado ou arrogância. Depois, porque se trata de frase feita, e quem a repete geralmente quer que o agressor apodreça na cadeia ou torre no fogo do inferno; ainda assim, está crente que este desejo (dos mais compreensíveis) é um sentimento puro e politicamente correto que nada tem a ver com vingança.
Castigo, pena, punição são sinônimos

da palavra rejeitada. No caso delas, tudo bem. Mas se você disser que quer se vingar, é olhada como se fosse um monstro pronto a sair de arma em punho para barbarizar o resto da humanidade. Num piscar de olhos, passa de vítima inocente a culpada, pelo simples fato de desejar uma coisa. Os autoproclamados não-vingativos parecem ignorar que raríssimas são as pessoas que partem para a ação, para o chamado fazer justiça com as próprias mãos. Por quê? Por que é preciso ter ao mesmo tempo 1. peito; 2. oportunidade; 3. força de vontade; 4. talento. E isto pouca gente tem.
Confesso com pureza d’alma

que adoro uma boa vingança. Faz pouco tempo me deleitei com a notícia sobre uma dentista polonesa chamada Anna Mackowiak que “não resistiu à tentação” de dar o troco. Acontece que foi traída e trocada por outra, e o incauto ex-namorado, Marek Olszewski, apareceu dias depois no consultório, queixando-se de dor de dente. Anna anestesiou o traidor e lhe arrancou TODOS os dentes. Foi presa, pode perder o direito de clinicar, mas não tentou alegar insanidade temporária. Fez a coisa de caso pensado, lavou a alma e agora é ver no que dá.
Esse é o outro lado da vingança: a criatura tem que estar preparada para agüentar as conseqüências. E não tentar disfarçar a desforra com desculpas do tipo privação de sentidos nem dar a ela outro nome social e moralmente mais aceitável. É o caso da mulher que processou a pai por “falta de afeto”, alegando que só queria ser amada como os irmãos eram. Tá bom, conta outra.
Esse é o outro lado da vingança: a criatura tem que estar preparada para agüentar as conseqüências. E não tentar disfarçar a desforra com desculpas do tipo privação de sentidos nem dar a ela outro nome social e moralmente mais aceitável. É o caso da mulher que processou a pai por “falta de afeto”, alegando que só queria ser amada como os irmãos eram. Tá bom, conta outra.
Madrugada dessas, estava eu insone

“pilotando” o controle remoto da tevê quando encontro um filme chamado Doce Vingança. Meu lado politicamente incorreto assanhou-se todo. Só fiquei de pé atrás com aquele “doce” porque não sabia na época que o titulo original era bem mais promissor: I Spit on Your Grave. Vamos combinar que “cuspir no túmulo” do desafeto promete emoções bem mais fortes. Resolvi arriscar ao perceber que se tratava de uma vingadora, coisa que no cinema praticamente só existe em ficção científica.
Resumindo, a história é a seguinte:

jovem escritora aluga uma cabana no meio do mato, atrás de paz e inspiração, e acaba brutalmente estuprada por quatro trogloditas – entre eles, o delegado da cidade. Sem poder confiar na polícia, parte para uma desforra daquelas de Stallone nenhum botar defeito. É literalmente olho por olho, dente por dente...
y otras cositas más.
O roteiro tem milhões de furos, mas quem liga? Duvido de que alguma espectadora não tenha se identificado com a mocinha e achado a vingança dela a coisa mais justa do mundo.
y otras cositas más.
O roteiro tem milhões de furos, mas quem liga? Duvido de que alguma espectadora não tenha se identificado com a mocinha e achado a vingança dela a coisa mais justa do mundo.