O GRAND TOUR
DA
ANTIGUIDADE
Acompanhe a viagem do herói Germânico, de Roma até a fronteira do Egito com a misteriosa terra dos etíopes, o primeiro roteiro turístico da história, muito apreciado pelos ricos romanos do século I. Qualquer semelhança com os tours e com os turistas do século XXI não é mera coincidência, como explica o jornalista australiano Tony Perrottet, no livro Férias Pagãs (Editora Rocco).
Este era uma espécie de guia de viagem que todo turista romano
levava na bagagem: o mapa-mundi da época segundo Dionísio,
conhecido como o Periegeta -- isto é, o Guia.
levava na bagagem: o mapa-mundi da época segundo Dionísio,
conhecido como o Periegeta -- isto é, o Guia.
De todos os ecos modernos de antigos hábitos de viagem, o mais notável é que o roteiro turístico romano favorito continua sendo a trilha mais concorrida da terra. De fato, quando você traça no mapa o itinerário original, parece com qualquer pacote tipo “Maravilhas do Mediterrâneo” dos dias de hoje.
O Grand Tour da Antiguidade começou, é claro, na Itália. Depois de uma despedida emocionada de sua amada Roma – os viajantes iriam, afinal, se ausentar de dois a cinco anos --, eles seguiam ruidosamente em grandes carroças com quatro rodas de ferro pela Via Ápia. |
Faziam uma parada na Baía de Nápoles, o balneário mais concorrido da época, cujos prazeres carnais deixariam envergonhada a Ibiza moderna,antes de chegar ao porto no calcanhar da península. Ali, os passageiros embarcavam, exatamente como fazem hoje, rumo ao leste. E era a bordo, com as velas panejando no Adriático, que a verdadeira aventura começava.
O circuito romano ideal pode ser mais facilmente conhecido por meio do príncipe Germânico César, o popular sobrinho-neto de Augusto, que viajou pelo Império de 17 a 19d.C. O belo vencedor de muitas campanhas sangrentas contra as tribos da Germânia, Germânico se aproveitou da série de benefícios que vinham com seu posto oficial de cônsul, optando por levar sua mulher, Agripina, e seu filho de cinco anos, Caio (o futuro Calígula) para uma prolongada viagem às custas dos cofres públicos.
O circuito romano ideal pode ser mais facilmente conhecido por meio do príncipe Germânico César, o popular sobrinho-neto de Augusto, que viajou pelo Império de 17 a 19d.C. O belo vencedor de muitas campanhas sangrentas contra as tribos da Germânia, Germânico se aproveitou da série de benefícios que vinham com seu posto oficial de cônsul, optando por levar sua mulher, Agripina, e seu filho de cinco anos, Caio (o futuro Calígula) para uma prolongada viagem às custas dos cofres públicos.
Para Germânico, assim como para todo romano, a Grécia era a primeira parada: aqueles vales sagrados, com bosques de oliveiras banhados em luz, eram a nascente da civilização. Ali, os turistas mostravam que eram, sobretudo, amantes da história, avidamente à procura de todos os monumentos, templos e relíquias gregos que evocassem o passado heróico.
Mas “história” para os romanos nunca estava limitada aos feitos de meros mortais. Os mitos e lendas nascidos na Grécia eram igualmente reais para os turistas – e suas relíquias, de longe, muito mais atraentes. Quer fossem os ossos de titãs derrotados exibidos em templos (provavelmente as coxas de mamutes), o ovo do qual nascera a bela Helena (provavelmente um ovo de avestruz trazido da África), ou uma gruta sombria que diziam ser frequentada por Pã e suas ninfas, o toque dos deuses era irresistível.
Mas “história” para os romanos nunca estava limitada aos feitos de meros mortais. Os mitos e lendas nascidos na Grécia eram igualmente reais para os turistas – e suas relíquias, de longe, muito mais atraentes. Quer fossem os ossos de titãs derrotados exibidos em templos (provavelmente as coxas de mamutes), o ovo do qual nascera a bela Helena (provavelmente um ovo de avestruz trazido da África), ou uma gruta sombria que diziam ser frequentada por Pã e suas ninfas, o toque dos deuses era irresistível.
Germânico visitou Atenas por causa do Partenon para se encontrar com grandes filósofos em tavernas cobertas por videiras. Ele foi a Delfos por causa de seu oráculo; a Esparta por suas gloriosas tradições militares; e até apareceu no mais ilustre evento esportivo do mundo, os Jogos Olímpicos, onde disputou uma corrida de carros ao redor do estádio sagrado, onde Júpiter outrora lutara com o Titã Cronos,e Hércules arremessara o disco.
Depois da Grécia, os romanos seguiam o canto da sereia do Egeu – seguindo de ilha em ilha rumo ao leste até Rodes, para inspecionar as ruínas do Colosso (que desmoronara durante um terremoto dois séculos antes; atualmente, não resta dele vestígio algum).
Depois da Grécia, os romanos seguiam o canto da sereia do Egeu – seguindo de ilha em ilha rumo ao leste até Rodes, para inspecionar as ruínas do Colosso (que desmoronara durante um terremoto dois séculos antes; atualmente, não resta dele vestígio algum).
Depois de fazer um cruzeiro pela costa da Ásia Menor, a Turquia dos dias de hoje, Germânico lançou âncora no local das ruínas de Tróia– a Jerusalém pagã, cenário da Ilíada de Homero, e a mais evocativa das atrações turísticas da Antiguidade.Ele inspecionou as relíquias de heróis troianos, ofereceu sacrifícios nos túmulos de guerra e, aparentemente, foi recompensado com uma visão do fantasma de Heitor.
Da Ásia, os turistas se dirigiam para o mais alardeado destino do mundo antigo: o Egito. Os romanos eram fascinados por aquela terra misteriosa e seus monumentos silenciosos, onde sacerdotes de cabeça raspada ainda adoravam crocodilos, cadáveres embalsamados e praticavam feitiçaria. |
Do porto de Alexandria, Germânico foi para as pirâmides no dorso de camelos e depois embarcou em um cruzeiro pelo Nilo até Tebas, a Luxor moderna. No calor estonteante, à luz de tochas, valendo-se de pés e mãos, escalou e visitou tumbas sinistras, onde ouviu sacerdotes mirrados, de rostos enrugados, contarem histórias sobre os faraós -- tudo, sem dúvida, entoado nas mesma vozes solenes que são usadas nos espetáculos kitsch de luz e som da Luxor dos dias de hoje. Por fim, chegou às sagradas cataratas de Ísis, na fronteira do Império; mais além, ficava o reino dos etíopes, cuja pela fora queimada pelo sol poente até tornar-se negra – para não mencionar os trogloditas, habitantes de cavernas, os massagetas, bebedores de sangue, e os blêmios, homens sem cabeça.
Os romanos aceitavam satisfeitos suas atrações-padrão como definitivas.
Ainda se deliciavam com as “Sete Maravilhas” – originalmente, a lista dos melhores pontos turísticos inventada por um estudioso desconhecido no século IIId.C. (e apropriadamente conhecidas como as “Sete Atrações” ou “Coisas a Serem Vistas”). Os primeiros turistas gostavam de se manter em caminhos já conhecidos.
Na verdade, eles inventaram a primeira rota turística da história, cujo espectro assombraria a cultura européia com tanta persistência quanto qualquer outra realização do Império.
Os romanos aceitavam satisfeitos suas atrações-padrão como definitivas.
Ainda se deliciavam com as “Sete Maravilhas” – originalmente, a lista dos melhores pontos turísticos inventada por um estudioso desconhecido no século IIId.C. (e apropriadamente conhecidas como as “Sete Atrações” ou “Coisas a Serem Vistas”). Os primeiros turistas gostavam de se manter em caminhos já conhecidos.
Na verdade, eles inventaram a primeira rota turística da história, cujo espectro assombraria a cultura européia com tanta persistência quanto qualquer outra realização do Império.